quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Texto- Beijos e Abraços- Veríssimo- e atividades

Beijos e abraços

Os franceses se beijam, e não apenas quando estão se condecorando. Mas dois franceses só chegam ao ponto de se beijar no fim de um longo processo de desinformalização do seu relacionamento, que começa quando um propõe ao outro que abandone o “Vous”, e eles passem a se tratar por “tu”, geralmente depois de se conhecer por alguns anos. Não sei se existe um prazo certo para o “Vous” dar lugar ao “tu”, mas é um passo importante, e até ele ser dado o cumprimento entre os dois jamais passará de um seco aperto de mão.
Os russos se beijam com qualquer pretexto e dizem que a progressão, lá, não é do aperto de mão para o abraço e o beijo, mas de beijos protocolares para beijos cada vez mais longos e estalados. Na Itália, os homens andam de braços dados na rua, sem que isso indique que são noivos, e o beijo entre amigos também é comum. Os anglo-saxões são mais comedidos e mesmo os americanos, que são ingleses sem barbatana, reagem quando você, esquecendo onde está, ameaça abraça-los. Ninguém é mais informal que um americano, ninguém mais antifrancês na velocidade com que chega à etapa equivalente ao “tu” sem nenhum ritual intermediário, mas a informalidade não se estende à demonstração física. Até aquele nosso hábito de bater no braço do outro quando se aperta a mão, aquela amostra grátis de abraço, eles estranham.
Já nós somos da terra do abraço, mas também temos nossas hesitações afetivas. O brasileiro é expansivo, mas tem, ao mesmo tempo, um certo pudor dos seus sentimentos. O meio-termo encontrado é o insulto carinhoso.
Não sei se é uma característica exclusivamente brasileira, mas é uma instituição nacional.
- Seu filho da mãe!
- Seu cafajeste!
São dois amigos que se encontram.
- Não. Só me faltava encontrar você. Estragou o meu dia.
- Este lugar já foi mais bem freqüentado...
Depois dos insultos, se abraçam com fúria.Os sonoros tapas nas costas, outra instituição brasileira, chegam ao limite entre a cordialidade e a costela partida.
Eles se adoram, mas ninguém se engane. É amor de homem. Quanto maior a amizade, maior a agressão. E você pode ter certeza de que dois brasileiros são íntimos quando põe a mãe no meio. A mãe é o ultimo tabu brasileiro. Você só insulta a mãe do seu melhor amigo.
- Sua mãe continua na zona?
- Aprendendo com a sua.
- Dá cá um abraço! E lá vem os tapas.
Um estrangeiro despreparado pode levar alguns sustos antes de se acostumar com a nossa selvageria amorosa.
- crápula!
- Vigarista!
- Farsante!
- My God! Eles vão se matar!
Não se matam. Se abraçam, às gargalhadas. Talvez ensaiem alguns socos no braço ou simulem diretos no queixo. Mas são amigos. Depois de algum tempo o estrangeiro se acostuma com cenas como esta. Até acha graça.
- Olha aqueles dois se batendo. Até parece briga. Um está batendo na cara do outro. Devem ser muito amigos. Agora trocam pontapés. É enternecedor. Agora um pega uma pedra no chão e... Acho que é briga mesmo!
Ás vezes é briga mesmo.

(VERISSIMO, Luis Fernando).



Explorando o texto
1- Destaque as palavras e expressões utilizadas pelo cronista para referir-se especificamente a costumes e rituais.
2- Que grau de intimidade deve ser atingido para que dois franceses cheguem ao ponto de se beijar?
3- Quem são os anglo-saxões?
4- Explique a expressão “os americanos são ingleses sem barbatana” (2º parágrafo)
5- No contexto, explique por que um americano é um antifrancês? (2º parágrafo)
6- Explique a seguinte colocação: “Você só insulta a mãe de seu melhor amigo” (11º parágrafo)
7- Identifique os autores das seguintes falas:
- Vigarista!
- Farsante!
- My God! Eles vão se matar!
8- Levando ao extremo as bem-humoradas colocações do texto, como mediríamos o grau de intimidade entre dois amigos brasileiros?
9- Qual é a nacionalidade do narrador? Que palavra ( ou palavras ) comprova(m) a sua resposta?
10- Comente o efeito produzido pelas expressões em destaque na passagem a seguir.
“Depois dos insultos, se abraçam com fúria. Os sonoros tapas nas costas (...) chegam ao limite entre a cordialidade e a costela partida.” (10º parágrafo)
12- Você também se comunica por meio de uma das linguagens abordadas pelo texto? Com quem e em qual situação?



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